quinta-feira, 19 de julho de 2012

Orvalhado


Orvalho: Vapor atmosférico que se condensa e depõe em gotinhas durante a noite, sob a forma de gotículas muito finas, sobre a vegetação de certos corpos expostos ao ar livre; diz-se também rocio, ou aljofre. Sereno. Uma neblina que geralmente aparece no início da noite e desaparece no inicio do dia.
Chuva muito miúda.

É sob a visão que também é cristalina que percepcionamos o fenómeno de beleza muito suave muito bonita.

Felizmente desde que existem as fotografias esse fenómeno passou a ser visto em registo a qualquer hora do dia e a minha intenção hoje é partilhar essa visão.

Deve de haver muita literatura que retrata este fenómeno eu apenas me deparei com dois; esse que acabei de postar e  que vou colocar a seguir…é para filosofar.
 Bem hoje encontrei mais esse poema
 JÁ, SEU MOÇO?

Você já andou, seu moço  
Descalço, com os pés no chão  
Numa vereda orvalhada  
Nas serras do meu sertão? 
  
Você já sentiu, seu moço  
Cheiro de terra molhada  
Tomou banho de riacho  
Depois de uma enxurrada?   

Você já saiu, seu moço  
De casa na madrugada  
Pra ficar olhando a lua  
Fazer uma caminhada?  

Você já assistiu, seu moço  
O romper da alvorada  
Sentindo a brisa no rosto  
Escutando a passarada?   

Se você nunca andou  
Numa vereda orvalhada  
E se também não sentiu  
Cheiro de terra molhada   

Não observou a lua  
Na calma da madrugada  
Nem viu o quebrar da barra  
Escutando a passarada  
Eu sinto muito, seu moço  
Mas você não viveu nada

Chico Calda


Aqui vai mais um poema aonde se aborda a ideia de orvalho

MULHER
 
Elas são as mães:
rompem do inferno, furam a treva,
arrastando
os seus mantos na poeira das estrelas.
.Animais sonâmbulos,
dormem nos rios, na raiz do pão.
. Na vulva sombria
é onde fazem o lume:
ali têm casa.
Em segredo, escondem
o latir lancinante dos seus cães.

. Nos olhos, o relâmpago
negro do frio.
.Longamente bebem
o silencio
nas próprias mãos.
.
O olhar
desafia as aves:
o seu voo é mais fundo.
.
Sobre si se debruçam
a escutar
os passos do crepúsculo.
.
Despem-se ao espelho
para entrarem
nas águas da sombra.
.
É quando dançam que todos os caminhos
levam ao mar.
.
São elas que fabricam o mel,
o aroma do luar,
o branco da rosa.
.
Quando o galo canta
Desprendem-se
para serem orvalho.
.
Eugénio de Andrade


Muita paz/

Sem comentários:

Enviar um comentário